segunda-feira, 11 de julho de 2011

Da missão de Ana Luiza

Passada a comoção pela perda de Ana Luiza, é bom refletirmos sobre as lições que ela nos deixa. Foi uma guerreira, motivou campanhas por todo o Brasil, deu-nos a oportunidade de mostrar que, mesmo em tempos de individualidade extrema, abriu nossos corações para a solidariedade, nos mostrou o quanto temos que evoluir na questão de atendimento médico especializado.

Ouvindo a Carolina Varella durante o velório de Ana Luiza, me chamou a atenção para uma frase: "Sei que a missão dela terminou e a minha começa agora porque não é possível que, em uma região rica como a nossa, tenhamos a necessidade de sair daqui para ter um atendimento decente. E nisso nos igualamos, ricos e pobres, no sofrimento que é estar longe da família e dos amigos, no combate de uma doença dessas". Carolina deixou claro que não lhe faltou nada, mas que ela viu as piores coisas do mundo quando aconteceu sua cruzada no acompanhamento a Ana Luiza.

A bem da verdade Carol já havia mostrado um pouco dessa dura realidade em um post no blog do Ismael Neto, que foi retirado a pedido dos pais por motivos religiosos. Felizmente o menino não tinha câncer, mas mostrou o quanto é duro para uma pessoa comum, que não tem influência, ou como dizem por aqui, "conhecimento". Não deveria ser assim.

Conversando com algumas pessoas que já passaram por essa via crucis, ouvi muitas histórias de como é difícil conseguir atendimento em Manaus e não deve ser diferente em outros estados país afora: pelejam para conseguir um exame e, quando conseguem, é para dois ou três meses depois, quando provavelmente a luta já estará perdida. Quantas vidas mais será preciso perder para entendermos que precisamos ter cenros de referência em todos os estados? 

Nada contra São Paulo, mas a maior cidade da América Latina já tem seus próprios problemas e poderia ser poupada de ainda absorver os do restante do país. Não é justo que pessoas com mais recursos tenham um melhor tratamento enquanto dezenas de outros brasileiros não tenham o mesmo. E olha que isso é um direito constitucional. Está lá escrito na Carta Magna do país que todos são iguais e merecem o mesmo tratamento. O que há de errado é que nos acomodamos, nos conformamos em aceitar as migalhas quando devemos lutar por um direito líquido e certo previsto em lei.

O que nós, aqui do Amazonas, e você aí em seu estado, devemos fazer é lutar para que os hospitais especializados em câncer ou doenças crônicas, sejam não apenas melhor equipados, mas também tenham seu atendimento humanizado. Aqui na Fundação Centro de Oncologia (FCecon), zona Centro-Oeste, quando você vai ser atendido, parece que os funcionários estão lhe fazendo um favor. É inadmissível que tenha um tratamento que nem animal recebe. No Instituto de Medicina Tropical, a menos de dois Km da FCecon, bem como no Chapot Privot, no Purarequara, zona Leste de Manaus, o atendimento é exemplar, mais humano.

Não é apenas querer que o hospital tenha um bom atendimento. Mas é também estar perto de amigos e familiares. Doenças como o câncer já são danosas demais para que sejamos privados da possibilidade de receber visitas.

E não adianta virem os defensores das causas governistas me dizer que o governador e a primeira-dama ajudaram anonimamente porque garantir atendimento fora do domicílio é dever do estado! E deve ser feito! Quer dizer, porque a repercussão do caso da Ana Luiza tomou dimensões nacional, deram apoio? E aos outros que sequer tiveram a oportunidade de fazer um exame decente aqui em Manaus? E os que são mal atendidos na cidade? Por que não investir em equipamentos e na capacitação de médicos e funcionários dos hospitais já existentes? 


Manaus, uma metrópole de dois milhões de habitantes não pode continuar com mentalidade provinciana. Sua história não pode ser jogada na lata do lixo por mero capricho de seus governantes. A cidade que primeiro teve iluminação pública no país; que primeiro libertou seus escravos quatro anos da princesa Isabel assinar a lei Áurea; que foi a primeira a ter um cabo transcontinental se ligando a Londres; que primeiro teve uma greve no país, não pode ter um atendimento médico de baixa qualidade.

E você, de outro estado, que passou ou conhece alguém que passou pelo mesmo drama faça uma campanha para que o hospital do câncer, de atendimento renal, ou outro de maior necessidade, seja melhor equipado e tenha um atendimento mais humanizado. Por aqui vamos começar a fazer um abaixo-assinado e fazer ações junto a parlamentares para que aconteça. Faça o mesmo você também!


13 comentários:

  1. Vamos concretizar o Instituto Ana Luiza? Amém!

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  2. Viva Ana Luiza!

    Concordo plenamente com tudo o que está escrito no texto, e o que eu penso é que quem deve correr atrás não são os que estão precisando desse atendimento, para si próprio ou conhecido, mas sim, TODOS nós, que não sabemos o amanhã, podemos precisar ou não um dia, mas a luta é por nossos irmãos, o nosso próximo, que deve ser amado como nós nos amamos.

    LUTO!

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  3. Assino em baixo!!
    essa palavras poderiam ser as minhas, sem dúvidas!! aliás, poderiam ser de milhares de brasileiros!!
    minha irmã precisou sair do Rio de Janeiro para transplantar seu coração em São Paulo porque nossa cidade não tem estrutura nenhuma.
    E saiu sem ajuda nenhuma do Governo!
    Quem não tem condições de se bancar em outro Estado, morre. Conheço histórias de cardiopatas que morreram por conta disso.
    Precisamos unir forças e exigir dos governantes estrutura em cada Estado! Saúde decente!!

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  4. Concordo plenamente contigo, Robson.
    Felizmente quando eu e minha família passamos por esse problema, não foi necessário sair de Manaus para receber atendimento.
    O que não significa que tenha sido mais fácil, pois muitas vezes encontramos a emergência da FCecon operando em condições abusrdas, com muitas pessoas nos corredores por falta de leitos.
    É preciso que a população se mobilize por um atendimento mais digno a quem sofre desse tipo de doença porque ninguém sabe o dia de amanhã.

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  5. A lição que a pequena Ana Luiza nos deixou, sobre força, fé, bom humor...isso não tem preço!

    E também nos abriu os olhos para a realidade das pessoas que necessitam de tratamento e, além do drama da doença, enfrentam a solidão em lugares tão distantes, na hora em que mais precisam do apoio da família e amigos. Pra quem tem condições de se deslocar já é difícil, e as famílias mais humildes então? Passam às vzs anos longe dos seus...

    Os alagoanos Felipe Rocha Sampaio (curado), Felipe Lima (em tratamento)e Arthur Amorim (em memoriam), a pequena amazonense Giulia (in memoriam)...e tantos outros brasileirinhos, sabem bem o que é isso.

    Felipe Lima é uma criança carente, o pai perdeu o emprego pq viajou pra SP em busca de tratamento. Felizmente muitos anojos solidários que sequer os conhecia estenderam suas mãos.

    Lutemos por igualdade de condições de acesso e qualidade a tratamentos de saúde!

    #AnaLuizaParaSempre

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  6. É isso aí! Passei pelo mesmo que Carol e Marcos, perdi a minha menina com a mesma idade e doença da Ana Luiza, Faz exatamente 3 meses que ela se foi. Moro no estado do Rio de Janeiro, nem o meu estado me acolheu, passei pelos mesmos problemas, só consegui em São Paulo, lá eles sempre nos acolhem.
    Fiquei praticamente 1 ano e 3 meses morando em quarto e corredores de hospitais, longe dos amigos e da família em momento que precisamos tanto da presença deles.
    É lamentável!Nosso sofrimento fica maior por estarmos afastado de todos.
    É uma pouca vergonha!
    Precisamos lutar para mudanças, só quem passa por isso sabe como funciona!
    Que Deus nos abençõe!

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  7. Acabei de deixar um comentário pareceido no jornal d24am. Seria o momento de pressionar o governo por uma iniciativa desse porte.
    Um estado do tamanho, com a história e a importância do Amazonas não pode se conformar em mandar seus filhos para longe, para se tratarem!
    Imagino as mães que não podem oferecer um bom cuidado a seus filhos, nem a possibilidade de viajar para outro estado para isso.
    Imagino a solidão numa cidade desconhecida,sem o conforto espiritual dos familiares por perto!
    Seria bom a proveitar a boa vontade que a primeira dama demonstrou e pressionar por essa causa, um centro de referência de tratamento do câncer infantil que poderia ter alas com os nomes de Ana Luiza e Giulia, para que o sofrimento e morte delas se transformasse em esperança para todas as crianças da Amazônia!

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  8. Concordo plenamente com você. Eu acho que chegou o momento de todos nós colocar a boca no trombone, pois quem tem condiçoes financeiras um pouco melhor, acaba pagando duas vezes, porque, além do Plano de Saúde, paga impostos que deveriam ser usados para Segurança, Educação e SAÚDE! e o Brasil teria condiçoes para dar um atendimento melhor à população se nao houvesse tantoa corrupção.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Eu posso abrir a boca e falar os horrores que acontecem dentro da Fundação CECON, pois eu passei quase 2 meses todos os dias ali dentro com a Minha Mamy (já em seus últimos dias de vida), sem mencionar ainda os outros meses em que ela fez Radioterapia em junho/julho do ano passado... se for pra começar a falar eu posso pq estiver em vários hospitais com a Mamy, até nos particulares ela foi maltratada! Tanto em hospitais públicos quanto nos particulares eles acham que fazem um favor a vc em atendê-lo!!!! Médicos burros, sem tato, enfermeiros que furam a paciente inteira até conseguir acertar para somente então medicar... Quer saber um pouco dos absurdos que vi? Mamy sofreu mais de 2 anos entre hemorragias e por fim o câncer!!!!
    Ano passado, após um ano de hemorragia, uma cirurgia pra retirada do câncer no útero, sessões de radioterapia etc... ela passou mal. Levamos até o Pronto Socorro onde já chegou sem ar e com dor... o médico teve coragem de dizer na cara da minha Mamy que a falta de ar e a dor eram PSICOLÓGICASSSSS, mas que iria pedir um raio-x só pra desencargo da consciência... Simplesmente o pulmão direito dela estava completamente cheio de líquido em virtude do câncer... Esse meus caros... é só um pequeno pedaço do sofrimento de minha Mamy que teve que se submeter ao tratamento local!!! Enfim... exatos dois meses depois aquele médico imbecil dizer tais coisas Mamy se foi... e se ela estav fingindo tudo que tava passando, caramba... mamy foi uma ótima atriz até pra morrer!!!!

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  11. Situações extremas com as de Ana Luiza ajudam a iluminar o tamanho real do problema que vivemos no Amazonas. A posição que ocupa o estado e o empenho de nossa comunidade científica nos permitiriam ser referência de tratamento em várias especialidades. Vc tem toda razão. Não ter "conhecimento" é morte certa!!

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  12. Enfrentar um câncer na família é muito duro, passei pela situação de agendar um exame para minha avó e quando foi marcado ela já não estava entre nós há 6 meses. Não faltou esse exame a ela, pois graças a Deus conseguimos pagar algumas intervenções no caso dela.

    Porém, é revoltante atender o telefone e ouvir que é sobre aquele exame, que era necessário e hoje não mais. Os governantes só tomam uma posição quando sentem na pele, quando um filho adoece, quando ele adoece. Do contrário nada é feito.

    Assim, como existe aquele projeto de lei que filho de político devia estudar em escola pública. Devia ter uma lei que os políticos e familiares deviam utilizar o serviço público. Pois é muito fácil ter o melhor convênio e dinheiro a rodo para ter os melhores tratamentos. eu fico indignada!!

    Pelo visto o problema é em todo o país, sou do interior do estado de SP e espero que os políticos parem de olhar apenas para o próprio umbigo.

    Ana Luiza foi um grande exemplo e não será esquecida!

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  13. Ana Luiza se foi mas ficou a sua marca no coração de cada pessoa q acompanhou a sua trajetória n conseguiu aqui na terra mas no ceu continua a brilhar,força a família.
    Tudo q foi escrito é a realidade em q vivemos em um país tão rico e tão pobre de pessoas desumanas, mas temos q lutar n podemos desistir porque o direito de cada um de nos está garantido mas não é feito corretamente e a maioria dos politicos n estão nem ai,a quem precisa de um atendimento público fica aqui a minha indignação.

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