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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Jornalismo vilipendiado

Há alguns dias vi um texto do Sílvio Silva sobre a queda da qualidade do jornalismo digital.  Talvez você não tenha ideia do funcionamento de um portal e dos seus custos. É preciso ter repórter, editor, fotógrafo e mais ainda motorista e uma certa infra-estrutura.
Conversando com um amigo jornalista, que recebeu convite para ser editor de um portal de notícias que possui esta infra-estrutrura, pude entender porque a qualidade das notícias é tão questionável. Ele foi convidado para trabalhar nove horas por dia e receber o salário de R$ 2.800,00. Caso a carga horária fosse de cinco horas, o salário despencaria para R$ 1.500,00.
Mas o mais grave não é isso. Simplesmente essa carga horária de nove horas não existe na legislação de jornalismo. O Sindicato dos Jornalistas deveria agir nesses casos, mas simplesmente não tem força para mudar nada. Pelo simples motico de que não encontra respaldo dentro da própria categoria. E não é pela questão do diploma, pois não se exige o diploma, mas se exioge o registro de jornalista para exercer a profissão. Até porqu eu penso que não é um diploma que faz um bom jornalista.
Art. 303 - A duração normal do trabalho dos empregados compreendidos nesta Seção não deverá exceder de 5 (cinco) horas, tanto de dia como à noite.
 E jornalistas estão compreendidos nessa seção.
Isso explica muita coisa e, pior que as explicações, é que tem muitos que, por quererem buscar espaço no mercado de trabalho, acaba, se sujeitando a contrariar a lei e aparecendo na foto. Daí que para ser editor, é preciso que a pessoa tenha experiência, ter passado por pelo menos umas duas ou três editorias, ter liderança e outras características inerentes a um cargo importante como é.
Mas a preocupação dos portais hoje, decididamente não é por qualidade, mas sim sair atabalhoadamente na frente com a notícia, nem que ela seja desmentida horas depois ou simplesmente retirada sem dar nenhuma explicação como se nada tivesse acontecido. Essa falta de preocupação não é limitada aos portais não. Lamentavelmente os proprietários de veíoculos de comunicação nunca deram muita importância ao seu maior patrimônio: credibilidade. Sobre isso já escrevi anteriormente.
 
O efeito mais nocivo que isso tem para o jornalismo é que, como tem gente que se submete a fazer isso, acaba vilipendiando o mercado e não raro vemos colegas se queixando de que precisa ter dois ou mais empregos e ainda fazer uns bicos vendendo perfumes e roupas e coisa do gênero para sobreviver. É como minha avó já dizia: meu filho, emprego é que nem alça de caixão, se alguém largar, vem outro e pega!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ai de ti, Manaus

Há quem diga que eu sou um reclamão de primeira linha por estar sempre fazendo críticas à minha cidade, ao meu estado e ao meu país. Estes não me conhecem! Não faço críticas ao lugar, mas sim aos seus governantes.
Manaus, e o Amazonas, e o Brasil, são lugares lindos e maravilhosos. Possuem um povo maravilhoso. Não tão maravilhoso por se deixar enganar por programas assistencialistas e ilusórios de obras faraônicas, invariavelmente superfaturadas, que demonstram a megalomania de seus perpretadores. Perpretadores sim, pois obra superfaturada é crime e quem as defende acabam sendo cúmplices.
Desejo a Manaus tudo o que de bom eu posso dar, que é o senso crítico de sempre analisar os fatos, de dar sempre uma alternativa e sim, de parabenizar quando algo for feito de bom pelos governantes. Naturalmente haverá ressalvas!
Faço e farei sempre as criticas aos governantes, nenhuma delas é desleal e sempre são acompanhadas de solução. Ou pelo menos propostas de solução.  Eles que aprendam a conviver com as críticas e delas façam um bom proveito.
Manaus, nesses 342 anos destes muitos exemplos ao mundo. Fostes a primeira cidade a acabar com a escravidão, em 1884, mas hoje vives escrava da Zona Franca de Manaus. Liberta agora teus irmãos municípios e deixe que lhes explorem suas potencialidades com sustentabilidade. Assim também te beneficiarás.
Manaus, fostes a primeira cidade a possuir iluminação elétrica pública e hoje deixas alguns habitantes na escuridão de tuas concessionárias de energia que não honram os contratos.
Manaus, fostes a primeira a ter cabo intercontinental te ligando à bolsa de Londres para saberes quanto custava o sangue branco que corria em tuas veias nos áureos tempos da borracha e hoje teus filhos padecem com um serviço de telefonia e internet caro e de baixa qualidade.
Manaus, fostes a primeira a usar a greve, os estivadores do teu porto de lenha, como forma de lutar para dar melhores condições aos teus filhos, mas hoje teus filhos sequer movem uma palha para impedir o aumento abusivo da tarifa de ônibus.
Manaus, jamais deixarei de te amar!
Manaus, deixo agora para ti um belo poema de um de teus valorosos filhos.

Ai de ti, Manaus
(excertos)
Aldisio Filgueiras


Ai de ti, Manaus:
tu viste
na televisão
o crime
suprir
tua lei
– no teu olho –
& preferiste
voltar
as costas
para o rio
& a floresta
& riste
& te chamaram sorriso
& riste

(...)

Decidi
ser didático contigo:
Muitas
cidades já foram devoradas
pelo fogo
& pela água
& pelo vento
& pela terra
& pela... bala...
& pela peste
Muitas.
Tu não:

(...)

Todo descuido
em ti será
fatal, Manaus.
Espremeste
todas as seringueiras
& oprimiste
todos os seringueiros
que o Nordeste
não teve tempo
quente o bastante
para queimar.

(...)

Massacraste
os teus poetas &
pintores
& músicos & malucos
de todos os matizes
– os que mais te amaram –
com discursos
& crimes pós-barba
& piadas obscenas
& quadros & romances
que só tu
superas em ficção
& maldade

(...)

Ouve a pobreza
dos teus
bairros, Manaus.
Eles comem
lixo & tu vestes luxo.
Eles querem viver
& ensinas
lições suicidas
desde a Baixa
Cachoeirinha
– onde quintais
viram danceterias
& os igarapés
estão bêbados de
néon & mercúrio.
Sim: eles querem viver.

Mas o ônibus
fede & os sovacos
& as bocetas
& os homens bebem
movidos a ódio cru
para sonhar
mas o sonho fede
& tu cagas pra isso.
Ai de ti, Manaus
não venhas chorar no meu ombro.